domingo, 20 de junho de 2010

Comentários sobre a noite de sexta
Por Vanessa Ferraz
Individualidade dentro de um Cesto

“Vivo num rio sem fundo”. É o sentimento expresso por uma das atrizes de O cesto, ao lidar com a situação do marido doente no hospital. A cena curta é, na verdade, toda a preparação da mulher que lida com algo novo, e se vê deparada com a morte de algo que aparenta ser o seu pilar.
A loucura e o sentimento de dúvida em relação ao futuro, são prontamente ultrapassados nesta cena. “A morte dele me fará nascer”, diz uma das personagens. O que fazer, como agir quando nos vemos sozinhos, encarando situações sinuosas da vida? “O que fazer depois que o hábito de se submeter ás vontades alheias não mais existe.”
Dirigida por Marco Antonio Rodrigues, a peça paulista mostra de forma dramática e simples o modo como muitas vezes são encaradas situações de perda e como nos parece relutante a tomada de decisões em meio ao emaranhado de viver.

Até o pequeno príncipe acharia cômico

Representando o Rio de Janeiro, as palhaças Indiana da Silva e Shoyu, começam a cena interagindo com a platéia, com a freqüente pergunta, seguida da resposta: “Você está bem? Eu estou ótima!” dessa forma, o público já sente de imediato o contexto cômico em que está prestes a ser inserido.
Colocando situações pessoais das personagens em cena, as atrizes Karla Concá e Vera Ribeiro, adentram o texto de Saint-Exupery, de forma suave e agradável. Optando por encenar o diálogo entre o Pequeno Príncipe e a Raposa, freqüentemente a historia é interrompida por uma intervenção muito bem humorada de uma das palhaças, que conta de forma natural e em tom de inocência, histórias mirabolantes, porém muito divertidas, o que deixa a outra palhaça cada vez mais impaciente.

Coracao acéfalo, boca desgarrada e muito sentimento de Curitiba para o Cenas Curtas.

Eles falam bastante de si. Narram inconstâncias, excessos, discutem sobre pessoas, abordam homens como homens, mulheres como mulheres... Paixões, carências, experiências diversas que podem ou não se transformar em amor.
Os atores Patrícia Cipriano e Rafael di Lari, abordam esses temas de uma forma jovem. O rapaz, conta suas experiências, e ela faz a mesma coisa mostrando no desenrolar da cena como elas são mutuas e individuais. “Não consigo dizer, somente sentir.”
Quando o casal diz a frase “Eu te amo”, a impressão despertada é a impactante realidade de que amar é algo sério, e enquanto ela cai desacreditada, ele é questionado quanto à veracidade da afirmativa. Na seqüência é hora de um retirar o outro de cena, abordando felicidade e crises conjugais, em meio à narrativa de situações individuais conflitantes.
A equipe de Curitiba misturou música e bom humor apresentando sua cena curta no terceiro dia do festival. Foi uma mostra de que todo o amor, e as cotidianidades de um casal, também tem a ver com a individualidade de cada um de nós.

Suave [in] Pura Brancura

Os atores se vestem de preto, talvez para fazer um paradoxo entre o amor e a morte. Em meio ao ritmo, os atores nos apresentam sentimentos que parecem nunca ser os mesmos. O toque é hábil ao contexto expressionista do corpo que transpassa a alma dos integrantes do elenco.
A peça dá margens subjetivas a sensações opostas. Navegando nos extremos e com todos os componentes apresentados de forma abstrata, prende a atenção ao que os atores tem a nos mostrar, sobre as atividades sensoriais desenvolvidas individual, e coletivamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário