quinta-feira, 18 de junho de 2009

Circo, bonecos, vídeo e cinema: fique atento para o 10º festival de Cenas Curtas Galpão Cine Horto

Por Mónica Herrera

Se você é uma pessoa que costuma frequentar ambientes que pessoas “de teatro” gostam de frequentar, seguramente você está familiarizado com expressões do tipo “experimental”, “clown”, “consciência do corpo”, “orgânico”, “palhaço”, “ação física”, provavelmente ouça falar de Stanislavski como se fosse alguém nascido no século passado (e não no anterior), e de Grotowski como se fosse uma grande promessa ainda (ainda!). Fique tranqüilo: o mundo não é um absurdo, nem todo mundo virou palhaço. Pelo menos não é tão simples assim, e antes de se adentrar em obscuras areias metafísicas para explicar este fenômeno, melhor seria refletir sobre os eventos culturais que aconteceram em Belo Horizonte no mês de junho e no que ainda está por vir.

De 7 a 14 de junho, tivemos uma ótima oportunidade para ver convergir na tela o circo e a sétima arte. O circo no cinema uniu ao Palácio das Artes e à 2ª Mostra e Olimpíada de Artes Circenses sob o objetivo de promover as artes circenses. E não é por acaso que isto é notícia para o mundo do teatro também. Se tivéssemos que pensar o quanto se pode aprender da “consciência do corpo” assim como ficar de forma “orgânica” em cena apenas dando uma olhada nos bons acrobatas ou ao uso da acrobacia que estão fazendo atores e atrizes no palco e na rua. Das técnicas do palhaço e suas múltiplas possibilidades, pode-se dar uma boa prova neste X Festival de Cenas Curtas tanto com a cena convidada e fora de concurso “Boxe com Palhaçada”, de Manaus, que será apresentada quinta-feira e sábado, assim como “O Sequestro”, de Salvador, fechando o domingo.

Até este momento do artigo, só consideramos os narizes vermelhos, porque o humor e o absurdo vão estar presentes em muitas outras cenas, porque o clown não necessariamente precisa da fantasia do palhaço. De fato, assistir a um filme como “O Circo”, de Charles Chaplin, pareceria não precisar de justificativa nenhuma. Se você teve a oportunidade de olhar o trabalho de um clown, no desenho com luz em movimento, não perca a chance de apreciar as diferenças da ação e direção sem edição. A ação no palco é diferente da ação na tela, tem outros recursos, outros tempos, mas, mesmo assim, o mundo de hoje nos convida a estabelecer laços entre as diferentes técnicas. Duas cenas nos convidam explicitamente a fazê-lo. Desde o conteúdo, a partir de referências – associações e confusões - como o músico Itamar Assumpção, o cineasta David Lynch e seriados de TV, direto de Curitiba, o Teatro de Breque apresenta “O Beijo”, no domingo. Mas também com a integração de uma nova temporalidade no teatro através da incorporação do vídeo e de performances mais ágeis, peças como “Para aqueles que lavaram as mãos”, na quinta, prometem uma mostra de novas tendências no palco que sugerem um up date do teatro aos ritmos de artes mais novas como o audiovisual. O que não pode, ou pelo menos não deveria ser ignorado por ninguém que tenha assistido ao VII Festival de Cinema e Vídeo, que aconteceu de 4 a 7 deste mês, no Palácio das Artes.

Finalmente gostaria falar de bonecos. De 5 a 14 de junho, também foi possível assistir ao X Festival Internacional de Teatro de Bonecos. Um evento de qualidade, sem dúvida, com bonecos de diferentes formatos. O teatro de bonecos tem sido, desde longa data, objeto de fascínio por parte dos amantes da arte. Mesmo quando eram dirigidos somente por uma limitada maquinaria, os bonecos seduziam ao seu auditório pela sua habilidade, exatidão, precisão. E agora, com mais possibilidades em aberto, souberam fazer talvez melhor ainda que os humanos, efeito do defeito: fazer-nos esquecer ou nos deliciar com aquilo que, no início, poderíamos rejeitar. Neste X Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, você não pode perder na sexta-feira “Caixinha de Lembranças”, do Grupo Caixa 4, de Belo Horizonte.

Mas também não pode perder as outras cenas, por tudo o que elas têm a ver com as outras artes, com o passado e o presente, e porque você ainda pode se surpreender.

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