domingo, 21 de junho de 2009

Cartas a Um Jovem Poeta é inspiração para o Festival de Cenas Curtas

Por Maria Luiza Mattar


Solidão
A solidão é como uma chuva.
Ergue-se do mar ao encontro das noites;
de planícies distantes e remotas
sobe ao céu, que sempre a guarda.
E do céu tomba sobre a cidade.

Cai como chuva nas horas ambíguas,
quando todas as vielas se voltam para a manhã
e quando os corpos, que nada encontraram,
desiludidos e tristes se separam;
e quando aqueles que se odeiam
têm de dormir juntos na mesma cama:

então, a solidão vai com os rios...

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"





Da solidão que há em nós
é uma das cenas que será apresentada no 10º Festival de Cenas Curtas, do Galpão Cine Horto. A apresentação, criada especialmente para o evento, trata da solidão, um elemento sempre presente na sociedade contemporânea. Através da inspiração de Cartas a um jovem poeta, obra do poeta alemão Rayner Maria Rilke, a equipe composta pelo diretor João Filho, pela dramaturga Adélia Carvalho e pelos atores, Henrique Meirelles e Marco Túlio Ornellas pretendem levar o público a uma reflexão.
Henrique Meirelles, ao ler o livro, logo se identificou com as idéias do autor e procurou compartilhá-las com outras pessoas. “Quando li o livro de Rilke, senti que muito do que era falado ali coincidia com meus pensamentos”, afirma o ator. A partir daí surgiu a vontade de montar um trabalho inspirado na obra. Henrique chamou João Filho, que concordou em dirigir e Marco Túlio, em atuar. Uma coincidência está no fato de que ambos haviam tido, também, naquele momento, contato com o livro. A vontade de tratar dessa temática foi apoiada por Adélia Carvalho, que já havia escrito alguns textos em que abordava a solidão humana.
O livro Cartas a um jovem poeta é marcado pela intensidade da vivência do autor e pela simplicidade das palavras. Entre questionamentos como a criação artística, Deus e relacionamentos, há também uma reflexão sobre a grandeza da solidão, algo inelutável do ser humano. A criação dramatúrgica da cena foi inspirada a partir dos trechos das cartas dirigidas ao jovem poeta Franz Kappus, que tratam dessa solidão original e, de certa forma, positiva.
A dramaturgia da cena foi desenvolvida por meio de estímulos advindos das improvisações dos atores, que se pautaram pelo modelo do “teatro investigativo”. Quanto ao trabalho de direção, houve uma atenção especial ao jogo criativo dos atores com relação à poética do texto, às vestimentas, aos objetos, à interferência sonoro-musical e à iluminação. O diretor busca um estilo que não dê prioridade aos excessos cênicos, mas que procure descobrir a verdade interna dos personagens, colocando o ator como centro da ação dramática.
A formação e o trabalho de cada integrante apresentam muitos elementos em comum. Os atores Henrique e Marco Túlio formaram no CEFAR, Centro de Formação Artística do Palácio das Artes, enquanto João Filho está se formando neste curso e também, em Teatro, na UFMG. Adélia Carvalho, que é, além de dramaturga, atriz e diretora teatral, desenvolve seu trabalho de dramaturgia em alguns espetáculos de formatura do CEFAR. Cristiano Reis, que auxilia na pesquisa corporal da cena, integra a Companhia de Dança no Palácio das Artes. Foram as semelhanças dessa equipe que ajudaram na construção da cena-espetáculo.

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