Ensaio sobre adaptação cênica de obras literárias
Por Carolina Anglada
O teatro consiste de diversos elementos e um deles é o texto. Mas o texto não faz o teatro. O texto precisa ser teatralizado. Em forma de texto, é uma idéia. Ao ser tomado como base, precisa subir nos palcos, justamente com aquilo que lhe é único, vestir a roupa, arregaçar as mangas, construir o cenário e se portar como parte do todo.
Partir de um texto narrativo-literário à construção de um espetáculo cênico não é simplesmente deduzir que o processo se deve unicamente a transpor as linguagens e acrescentar aquilo que falta ao texto. Primeiramente, é preciso retirar todos os elementos que sobram na obra, isto é, aqueles elementos do texto ou da própria caracterização da narrativa como estrutura, que não pertencem ao teatro. Depois, é necessário que se comprima. Ou seja, toda a história que em um livro ocupa 200 páginas, deve-se pensar naquilo que a constrói, de forma condensada. O que acontece, geralmente, é que nesse processo de priorização do que é essencial na obra, muitos dramaturgos ou adaptadores acabam descobrindo aquilo que será focado no seu espetáculo. Isto é, no momento em que se pára e pensa o que é o cerne da obra que será dramatizada, acaba-se aproximando de algum personagem que no texto literário não tem muita importância ou em uma situação narrada, por exemplo. Isso é recorrente, mas vai de dramaturgo para dramaturgo. Ao final, é possível definir a necessidade de um processo de associação, o quê no texto é o sentido, e como ele será distribuído em cenário, personagem, diálogo, situação dramatizada. Independente do enfoque que o adaptador quiser dar, a idéia original da obra deve estar, de alguma forma, destrinchada nos elementos que compõe o espetáculo.
Quando se assiste a alguma peça em que todas essas questões foram levadas em consideração, podemos pensar que a situação contemporânea dos diálogos possibilitados entre as vertentes artísticas é positiva e deve ser otimizada. Podemos estar frente a frente com a obra literária ficcional se enriquecendo com recursos mais livres e múltiplos do teatro e da encenação. E não é só a obra que ganha em termos de dimensão, mas o próprio público, que ao se propor assistir uma peça em vez de ler a obra, muitas vezes, se sentirá incluído num mundo ficcional de uma forma mais natural e que lhe convém.
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