domingo, 21 de junho de 2009

Quatro cenas e uma noite intensa

Por Brígida Alvim

Aqui? Aqui onde? Tudo? Tudo o que? Questões simples e ao mesmo tempo complexas dão início a um diálogo constante e ininterrupto. Gente conversando? Não, são bonecas e bonecos, ursos e palhaços - alguns até nos pareceram familiares. Uma canção na caixinha de música acalma os ânimos. Caixotes pendurados por cordas e barbantes são habitats dos pequenos personagens. Um jogo de luz e penumbra permite observá-los. A estética de Caixinha de surpresas não pretende adoçar, pois os bonecos e mimos já estão velhos e desgastados. E nos lançam a pergunta: nossos brinquedos e desejos da infância, onde foram parar? Da mesma forma, esquecemos dos ideais históricos da humanidade, pensamentos filosóficos que propuseram grandes mudanças e, no entanto, ficaram para trás. Nossa incrível capacidade de esquecer as coisas... Infância, nostalgia, reflexões e questionamentos. “Por que já não dizemos nada? Porque não podemos dizer nada”. Estamos na era da tecnologia, nos socializando por meio do celular e da internet, talvez brinquedos e antigos sonhos já não importam. Será que seria essa a resposta? O que é tudo, onde é onde? “Paz e amor!” - um grito – e apagam-se as luzes para entrar a próxima cena.
“Qualquer mulher já pensou em matar o marido!” Para Francisca, o que no início era um devaneio, tornou-se uma determinação real. O humor caracteriza a linha narrativa da cena carioca. Apesar do tema de morte, intrínseco numa relação de amor e ódio, a cena é leve e divertida. A dramaturgia se sustenta principalmente na linguagem, irônica e sarcástica. Duas mulheres se revezam na interpretação do casal, Francisca e o marido. A encenação é dinâmica e envolvente. “É fácil chorar se a pessoa está muito feliz”, de fato consumado, justifica a protagonista, surpreendendo a plateia.
A cena seguinte foi Corpo Fechado. Mário de Andrade, um dos artistas percussores do modernismo no Brasil, é o protagonista que relata a experiência vivida em uma de suas viagens ao Nordeste para aprofundar-se no estudo de culturas regionais. Uma mesa com forro branco e velas, uma cadeira à frente e, nela, o personagem principal se dispõe a participar do “ritual para fechar o corpo”, em cerimônia do catimbó. Um misto entre dança, canto, poesia, diálogos e movimentos compõe o episódio cômico-cênico, num ambiente sinestésico. Percussionistas embalam o misticismo da cena e o odor de incenso e arruda extrapola do palco. No entanto, por falar em extrapolação, em alguns momentos o humor é forçado além da medida. A expressão corporal, embora bem situada na narrativa, exibe esforço exaltado em fazer rir, o que compromete a qualidade da cena.
Finalmente, Eu me vendo por muito menos do que você paga fechou a noite teatral com provocações inusitadas. Passividade é o que se pensa de um sujeito inerte frente aos ataques de pessoas zombadoras e agressivas que lhe atiram tomates; mas o Conjunto Vazio é capaz de contrariar esse conceito inicial. O alvo, um rapaz franzino, parece frágil e indefeso. Triste, por hora inabalável. De repente, exibe um sorriso sarcástico e triunfal. Pudera, pois, ao contrário do que se imagina, é ele que está manipulando quem está a lhe atacar. O espectador, passando a compor a “massa”, torna-se personagem ativo e também passivo, ao fazer aquilo que é comandado no palco, seja por meio de olhar provocativo ou de vozes impositivas transmitidas em recurso audiovisual. “Jogue e se divirta!” é dito, e os tomates são atirados pelos “manipulados”, maioria da plateia. Essa reação previsível do público é o “pulo do gato”, o sustentáculo da cena.

5 comentários:

  1. Brígida, gostei da crítica. Sintética, direta e pessoal. Parabéns! Breno

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  2. Brígida, seu texto está claro, sintético, objetivo e crítico, sem ser cansativo. Muito bom e adequado para o formato de um blog.

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  3. Parabéns Bribri, sempre soube que vc tem um futuro de muito sucesso pela frente.
    Grande Beijo

    Rodrigo Cardoso

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  4. Parabéns Bibi! Sempre falei que vc seria a jornalista de futuro... Está mostrando isso!
    Beijos

    Rejs

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  5. Legal amiga.. Parabéns.. Depois entra naquele do IETV que eu te mandei o endereço.. linka um no outro.. teatro e tv tem tudo a ver..Bjos..

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