sábado, 27 de junho de 2009

O Intercâmbio Cultural e o Teatro da Região Norte

Por Dani Senra

A apresentação da peça “Boxe com Palhaçada” foi resultado de um intercâmbio entre dois festivais com a mesma proposta e linguagem: Breves Cenas (AM) e Cenas Curtas (MG). Ainda em sua primeira edição, o Festival Breves Cenas conquistou o público amazonense. A iniciativa de criar um festival desse formato no Amazonas, foi da Companhia Cacos de Teatro em conjunto com a Cia. Artbrasil.
Com apenas dois anos de existência o grupo criou um festival capaz de lotar as salas de teatro, oferecer oficinas e fechar boas parcerias. O 1º Festival Breves Cenas aconteceu entre os dias 10 e 15 de março e contou com jurados de outros estados como Fernando Mencarelli. A idéia é que o festival ganhe proporção nacional e que haja sempre o intercâmbio entre os festivais de outras partes do Brasil.

Em entrevista ao Blog Cenas Curtas, Taciano Soares e Dyego Monnzaho contaram como tudo aconteceu.

Como surgiu a idéia de realizar o Festival Breves cenas?

A idéia de fazer um festival desse formato, lá na região Norte, é uma idéia que já existia antes mesmo da formação da Cia. Cacos de Teatro. Sempre conversamos muito sobre projetos e numa dessas conversas o Márcio, um dos coordenadores, falou dessa idéia de formar um festival que tivesse formato de sketch. Achamos muito interessante e os três integrantes da companhia Cacos, Márcio, Dyego e eu criamos a estrutura do projeto: Como aconteceria, perspectivas, alcance de público, a forma de como ele alcançaria artisticamente a cidade de Manaus e a região norte, que nunca havia recebido um festival desse formato, e como ele irá se projetar nos próximos anos. Então toda a concepção se dirigiu pela idéia do Marcos com estruturação da Companhia Cacos.

Foi uma parceria da Cia. cacos e Artbrasil. Como aconteceu essa parceria?

A Caixa Econômica tem um incentivo específico para festivais de teatro e dança. E a nossa companhia, apesar de ter muitas idéias e muita vontade de fazer diversas coisas, é muito nova no cenário. A Companhia Cacos tem somente dois anos e achamos que seria pouco para tentar um incentivo que é aberto nacionalmente. A companhia Artbrasil tem uma idéia de teatro parecida com a da Cia. Cacos, e deslumbramos a idéia de fazer uma parceria. A atriz e diretora Ana Claúdia Mota é, além de tudo, nossa amiga, então não tinha porque não acontecer essa parceria. Então fizemos a proposta, ela achou maravilhoso e acabou se tornando apresentadora oficial do Festival Breves Cenas. E aí sim, a Companhia Cacos e a Artbrasil juntas, desenvolveram o projeto, apresentamos a proposta para a Caixa Econômica e graças a Deus deu tudo certo.

Houve inscrição e participação de companhias de outras localidades?

Sim. O festival, a princípio, foi projetado para atender a região norte apenas. E aconteceu um fato muito curioso, no qual não esperávamos, houve interesse de grupos de outros cinco estados além da região Norte, inclusive Minas Gerais. Mas infelizmente não teve como abrir nacionalmente porque o projeto já tinha sido aprovado naquele formato. Mas a partir do ano que vem, poderemos atender todo o país.

Além das cenas houve oficinas. Elas foram abertas ao público?

Primeiramente nos queríamos que somente as pessoas que tivessem participando das cenas integrassem a oficina. Mas depois o espaço foi aberto ao público, então foi uma mescla de atores participantes das cenas e espectadores. O único pré-requisito foi que a pessoa tivesse um conhecimento mínimo de teatro para que, a oficina não tivesse um caráter tão básico já que era de curta duração, somente quatro dias.

Aconteceu alguma parceria com o governo e/ou prefeitura?

Sim, tanto a prefeitura quanto o governo. A prefeitura estava se reestruturando porque teve uma mudança do prefeito agora e a secretaria estava em transição. Então estava um pouco complicado, mas mesmo assim, quem viabilizou as passagens para virmos pra cá foi a Fundação Municipal de Cultura. E o espaço onde aconteceu o festival foi concedido pelo governo do estado que é quem gerencia a maioria dos teatros. E, juntamente com o espaço, todo a logística foi cedida através dessa parceria: estrutura, técnicos, funcionários e tudo mais. O SESC é um grande apoiador da Companhia Cacos e consequentemente foi também do Festival Breves Cenas. Cederam o espaço para os debates, oficinas e forneceu material impresso.

Como que funcionou essa parceria de vocês virem ao cenas curtas?

Foi através do Fernando Mencarelli. Ele é muito bem quisto lá e tivemos a oportunidade dele ser um dos jurados do festival. Ele lançou essa idéia, que nos já tínhamos, mas não chegamos ao ponto propô-la. Então ele deu a idéia e ai já calhou. Acho que ele ligou diretamente para o Chico Pelúcio e perguntou o que ele achava da parceria. Explicou do Breves Cenas ser muito parecido com o Cenas Curtas e que era premiativa e etc. Ai ele falou: Oh eu acho excelente a idéia, se você está falando que os meninos são bacanas e que o festival é bom, então... E aí foi perfeito. Então ficou nesse sentido, na premiação divulgamos essa surpresa, e a partir daí o pessoal da produção entrou em contato com o Galpão Cine Horto, pra gente estruturar essa parceria. E a idéia é que haja um intercâmbio, daqui pra lá, de lá pra cá. Acho bacanérrimo proporcionar essa troca dentro do Brasil que é um país tão diversificado.


O Teatro do Amazonas é o maior símbolo cultural do Estado. Mas poucas pessoas freqüentam o lugar. É verdade? Porque você acha que isso acontece? Existem projetos que viabilizam a ida das pessoas ao teatro?

É verdade. A gente tem uma dificuldade de acesso do público ao teatro e vice versa. Existem inúmeros fatores como em todo Brasil. E o que deve ser? É o gênero? A localização? O valor? É o que? A idéia? A divulgação?Não sei...
Eu acredito sim que tem espetáculo de qualidade lá, bem bacana. A gente ta viajando por outros estados e estamos vendo que realmente dá pra equiparar alguns trabalhos a título de qualidade. Há um problema de divulgação muito grande, muita gente reclama que não sabe o que ta acontecendo. Como eu te falei, a maioria dos teatros são gerenciados pelo governo do estado e ele não cuida muito bem da parte de divulgação. Não ocupa os espaços, tem muitos espaços de teatros vazios que não são abertos a temporadas e a justificativa é a falta de recurso. E quando há ocupação desses espaços pelas companhias, existe uma divulgação mínima, então é muito difícil. Mas mesmo assim a cultura de ir ao teatro não é desenvolvida em Manaus.
No Festival Breves Cenas, a gente conhecendo essa realidade, massificamos muito a divulgação e tivemos um resultado muito interessante. Porque o teatro que tem 130 lugares, em quase todos os dias do festival, chegava a uma lotação de 220 lugares, então ficou hiper lotado. Isso foi uma alegria pra gente. A gente sabe que, lógico, além do formato novo teve o fator de divulgação que foi muito importante, agente realmente massificou, eu acho que isso também ajuda. Tem muita gente que quer ir ao teatro e tudo mais.

Dyego

Eu acho que é isso. Você perguntou de projetos que viabilizam o acesso das pessoas ao teatro.
São pouquíssimos projetos, mas existem. Como é o exemplo do Projeto “No Palco” que leva para o Teatro do Amazonas, espetáculos de música na segunda feira, de teatro na terça e de dança na quarta. O acesso é gratuito, as pessoas até vão, mas a divulgação é ruim porque nem todo mundo sabe, quando que começa, porque é um projeto que não tem um período, as vezes tem em junho, as vezes é só em setembro. Então como você não constrói uma data e um histórico as pessoas ficam sem saber o que e quando está rolando.

Além desse festival que é novo. Quais outros eventos que prestigiam o teatro na região norte?

No amazonas tem o festival de Teatro da Amazônia que vai um pouco além da região norte, porque a Amazônia pega mais dois estados, um do nordeste e um do centro oeste, Mato Grosso e Maranhão. Tem festival de teatro no Pará e no Amapá, que são locais. Tem dois festivais no Acre, um estadual em agosto e o outro é nacional em janeiro. Não tenho conhecimento sobre festival de teatro no Tocantins, e Roraima acredito que não tenha. Mas Rondônia tem muitos festivais e mostras, e tem o maior Festival de Teatro de Rua da região. Que foi idéia de uma companhia chamada O Imaginário, que já está na sua terceira edição também patrocinado pela Caixa.

Quais são as expectativas para o 2º ano do Festival Breves Cenas?

As expectativas são enormes, porque graças a Deus o primeiro deu muito certo. E o segundo nós teremos o desafio de trabalhar com estrutura nacional. A idéia é manter, um sabor caseiro. Pois tem premiação, mas não tem rixa, disputa e nem energia ruim, então ocorreu tudo muito bem. O interessante é que foi uma observação feita tanto por jurados quanto pelos participantes. Então queremos aumentar o festival mantendo isso, esse gosto de uma coisa saudável e harmoniosa, dentro do possível é claro. E óbvio, aumentar a qualidade e o público principalmente. Foi uma iniciativa que deu certo então a gente precisa aproveitar esse gancho e ir para um espaço maior. Criar algo que seja novo, mas que não perca as pessoas que participaram da primeira edição e que alcance muito mais pessoas. Quem sabe nos nossos 10 anos, igual ao Festival Cenas Curtas, tenhamos um público imenso, já que na primeira edição conseguimos um número bem significante.
Tudo será ampliado, a quantidade de cenas, que foram dez, provavelmente aumentarão também. A oficina foi em dois módulos, corpo e interpretação. Então pretendemos aumentar o número, a qualidade e o estilo das oficinas. Não Trazer coisas tão simples que se encontra em qualquer lugar. Trazer coisas novas, que agreguem valor e conhecimento nas pessoas. Trabalhar também a questão do debate que foi um desfalque, lotavam o teatro à noite, mas no dia seguinte pouquíssimas pessoas iam, tem poucas pessoas interessadas em discutir teatro. É uma realidade, mas a gente quer estimular, criar algum mecanismo que estimule as pessoas a irem aos debates. Porque é interessante e importante, das pessoas ouvirem e opinar de maneira construtiva. A gente precisa ter essas coisas. Então é crescer com qualidade e não perder essa coisa do caseiro, do é nosso, não é meu e não é seu, é nosso.

Querem fazer mais alguma observação, falar alguma coisa?

A gente, quando veio a primeira vez para o sudeste com a Cia. Cacos, ouvia muito assim: como que funciona lá? Porque há um desconhecimento mútuo de como as coisas funcionam. E é legal porque a gente aos pouquinhos vai quebrando essas barreiras. A gente vê que é igual, os mesmos problemas, as mesmas dificuldades, mesmo num estado que tem lei de incentivo. No norte não existe lei de incentivo estadual nem municipal, só Rouanet e mesmo assim você sabe que, grande parte é para a região sudeste.
Mas mesmo assim a gente está encontrando, com muita dificuldade, espaços com patrocinadores como a Petrobrás, Caixa Econômica, Correios e o Sesc que é um grande fomentador de cultura no país.

Temos que reclamar menos e buscar formas paralelas de crescer, é lógico, sempre esperando que mais oportunidades apareçam e que mais possibilidades aconteçam pra que a gente possa trocar. Não só fazer na nossa cidade, mas sim trocar, é importante tanto pro conhecimento pessoal, mas também para o conhecimento de causa. O país saber o que se faz no país e colaborar. Enfim, foi excelente levar jurados de outros estados pra Manaus, já rendeu uma outra parceria que talvez no final já encontre uma outra coisa e assim vai caminhando e criando uma rede, fortalecendo o teatro no Brasil.

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