Por Breno Procópio
Eu quase não vou ao teatro. Nos últimos quatro anos, posso dizer que assisti a uns sete ou oito espetáculos teatrais. O que não representa nada perto do número de filmes que vi, livros que li sobre os mais diversos assuntos e discos que fui catalogando e escutando com puro deleite. Escrever sobre cultura tem a ver, é claro, com gosto; mas, como manda a cartilha de todo bom jornalista cultural, pesquisar, estar aberto a todas as possibilidades artísticas, conhecer as técnicas e, principalmente, estar sempre na rua, espaço por excelência da vida e, em decorrência, da arte, é regra, que deve ser seguida.
No entanto, nada é tão ideal assim; e por um motivo ou outro, eu não ia ao teatro. Mas, eis que surgiu o Núcleo de Jornalismo Cultural do Galpão Cine Horto, uma proposta inovadora, como tantas do grupo Galpão: alunos de comunicação, jornalistas, profissionais das Ciências Sociais, Letras, Belas Artes, Filosofia, gente das mais variadas formações se encontravam todas as quintas-feiras para conhecer um pouco das teorias e técnicas da cobertura jornalística de cultura.
A última etapa do curso dizia respeito à parte prática: tratava-se da cobertura do Festival de Cenas Curtas, com produção de reportagens, entrevistas e críticas teatrais. Para mim, era a certeza de uma maratona de cenas; e, obviamente, um misto de apreensão e euforia quanto à qualidade delas. Tinha a certeza que iria ver bons trabalhos. A questão era o número de cenas ruins que estava pela frente.
Mas, para minha surpresa, logo na abertura do festival uma canção dramática de Bethânia e Cafusca chorando em profusão de lágrimas porque seu marido-palhaço havia lhe deixado. Era o “Boxe com Palhaçada”, que ganhara como a melhor cena do Festival Breves Cenas, de Manaus, e estava participando como convidado em Belo Horizonte. O público não parou de rir...
Por falar nisso, a última participação do Cenas Curtas 2009, “O Seqüestro”, de Salvador também homenageava a profissão do clown. Uma dupla de palhaços seqüestrava um bebê e se metia em inúmeras trapalhadas. Para nós, o público, um sentimento de alma lavada e a lembrança de Carlitos.
Outra surpresa foi “Dia de Prova”, de Curitiba, que usando a técnica da máscara neutra apresentou uma cena perfeita, lírica e cheia de expressividade, presente em cada movimento mínimo dos corpos. Vi ainda a cena “A Mudança”, do Cia. do Chá, um diálogo com o romance “Metamorfose”, de Franz Kafka. Na cena em ritmo de “thriller”, Gregor acorda absurdamente mudado. Mas ao contrário dos silêncios e desprezo velado da família Samsa (obra literária), surge a ironia e o deboche - com pai, mãe e irmã jogando bolinhas de naftalina para o personagem transformado em inseto.
Vendo aquelas várias cenas, senti um misto de prazer, desgosto, incômodo, tédio, incompreensão, êxtase, riso e alívio. Me surpreendi. Ri diante do improvável improviso.
Por tudo isso, talvez me pareça que o TEATRO SEJA A ARTE DO FUTURO. Mais do que as outras artes e contrariando a voz de alguns críticos que afirmam que esse mesmo teatro caiu no ostracismo, digo que, talvez, o TEATRO SEJA A ARTE MAIS NECESSÁRIA.
Neste nosso tempo de máquinas, comunicações, celulares, TVs, sites, chats, blogs, vlogs, redes, relacionamentos online, pulverização da imagem e do virtual, isso sem falar do capitalismo e individualismo exacerbados. Tempo em que as distâncias acabaram, mas prevalece o preconceito, a dificuldade de lidar com o diferente, com o Humano, tempo da não tolerância e da não-palavra. A arte teatral tem papel fundamental.
Isso porque o teatro não é nada sem o público. O teatro não é nada sem o humano. Todo espetáculo é uma doação; o ator está doando a arte que produziu e, ao mesmo tempo, doando seu corpo, seu sangue. O teatro e também a arte do presente. Cada espetáculo se transforma no momento em que é apresentado, depende do acaso, da energia entre o público e o ator; é, portanto, único. Essa urgência traz um poder muito grande para o teatro, é como se se colocasse um espelho no palco e o público se visse por inteiro.
Desse modo, mesmo naquelas cenas que não gostei vi a doação e a generosidade do ator, e não pude deixar de sentir respeito por quem estava ali, no palco do Cine Horto.
Ao Cenas Curtas mais 100 anos de vida, pela experimentação, pela possibilidade do diálogo entre o novo e o velho, pela maturidade do grupo Galpão em forjar os moldes de um festival que tem tudo para apontar os rumos de novos tempos. Meus parabéns!
Eu quase não vou ao teatro. Nos últimos quatro anos, posso dizer que assisti a uns sete ou oito espetáculos teatrais. O que não representa nada perto do número de filmes que vi, livros que li sobre os mais diversos assuntos e discos que fui catalogando e escutando com puro deleite. Escrever sobre cultura tem a ver, é claro, com gosto; mas, como manda a cartilha de todo bom jornalista cultural, pesquisar, estar aberto a todas as possibilidades artísticas, conhecer as técnicas e, principalmente, estar sempre na rua, espaço por excelência da vida e, em decorrência, da arte, é regra, que deve ser seguida.
No entanto, nada é tão ideal assim; e por um motivo ou outro, eu não ia ao teatro. Mas, eis que surgiu o Núcleo de Jornalismo Cultural do Galpão Cine Horto, uma proposta inovadora, como tantas do grupo Galpão: alunos de comunicação, jornalistas, profissionais das Ciências Sociais, Letras, Belas Artes, Filosofia, gente das mais variadas formações se encontravam todas as quintas-feiras para conhecer um pouco das teorias e técnicas da cobertura jornalística de cultura.
A última etapa do curso dizia respeito à parte prática: tratava-se da cobertura do Festival de Cenas Curtas, com produção de reportagens, entrevistas e críticas teatrais. Para mim, era a certeza de uma maratona de cenas; e, obviamente, um misto de apreensão e euforia quanto à qualidade delas. Tinha a certeza que iria ver bons trabalhos. A questão era o número de cenas ruins que estava pela frente.
Mas, para minha surpresa, logo na abertura do festival uma canção dramática de Bethânia e Cafusca chorando em profusão de lágrimas porque seu marido-palhaço havia lhe deixado. Era o “Boxe com Palhaçada”, que ganhara como a melhor cena do Festival Breves Cenas, de Manaus, e estava participando como convidado em Belo Horizonte. O público não parou de rir...
Por falar nisso, a última participação do Cenas Curtas 2009, “O Seqüestro”, de Salvador também homenageava a profissão do clown. Uma dupla de palhaços seqüestrava um bebê e se metia em inúmeras trapalhadas. Para nós, o público, um sentimento de alma lavada e a lembrança de Carlitos.
Outra surpresa foi “Dia de Prova”, de Curitiba, que usando a técnica da máscara neutra apresentou uma cena perfeita, lírica e cheia de expressividade, presente em cada movimento mínimo dos corpos. Vi ainda a cena “A Mudança”, do Cia. do Chá, um diálogo com o romance “Metamorfose”, de Franz Kafka. Na cena em ritmo de “thriller”, Gregor acorda absurdamente mudado. Mas ao contrário dos silêncios e desprezo velado da família Samsa (obra literária), surge a ironia e o deboche - com pai, mãe e irmã jogando bolinhas de naftalina para o personagem transformado em inseto.
Vendo aquelas várias cenas, senti um misto de prazer, desgosto, incômodo, tédio, incompreensão, êxtase, riso e alívio. Me surpreendi. Ri diante do improvável improviso.
Por tudo isso, talvez me pareça que o TEATRO SEJA A ARTE DO FUTURO. Mais do que as outras artes e contrariando a voz de alguns críticos que afirmam que esse mesmo teatro caiu no ostracismo, digo que, talvez, o TEATRO SEJA A ARTE MAIS NECESSÁRIA.
Neste nosso tempo de máquinas, comunicações, celulares, TVs, sites, chats, blogs, vlogs, redes, relacionamentos online, pulverização da imagem e do virtual, isso sem falar do capitalismo e individualismo exacerbados. Tempo em que as distâncias acabaram, mas prevalece o preconceito, a dificuldade de lidar com o diferente, com o Humano, tempo da não tolerância e da não-palavra. A arte teatral tem papel fundamental.
Isso porque o teatro não é nada sem o público. O teatro não é nada sem o humano. Todo espetáculo é uma doação; o ator está doando a arte que produziu e, ao mesmo tempo, doando seu corpo, seu sangue. O teatro e também a arte do presente. Cada espetáculo se transforma no momento em que é apresentado, depende do acaso, da energia entre o público e o ator; é, portanto, único. Essa urgência traz um poder muito grande para o teatro, é como se se colocasse um espelho no palco e o público se visse por inteiro.
Desse modo, mesmo naquelas cenas que não gostei vi a doação e a generosidade do ator, e não pude deixar de sentir respeito por quem estava ali, no palco do Cine Horto.
Ao Cenas Curtas mais 100 anos de vida, pela experimentação, pela possibilidade do diálogo entre o novo e o velho, pela maturidade do grupo Galpão em forjar os moldes de um festival que tem tudo para apontar os rumos de novos tempos. Meus parabéns!
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